O que é ser profissional de Psicologia?
Vamos ver…
Pode parecer fácil, é só conversar… Pode parecer que conhecendo bem a teoria a ser empregada, que a técnica dependerá do profissional. Será mesmo?
Ledo engano, além de teoria e técnica precisamos ter sensibilidade. Mas como é isso? Como senti-la em se tratando do problema de outra pessoa? É isso mesmo!
Colocando-nos no lugar do paciente: como seria minha reação se eu estivesse no lugar daquela pessoa do qual cuido para melhorar em todos os aspectos psicológicos?
E tudo se passa muito rápido na minha cabeça. Identificação com o problema, soluções, baseadas nas comunicações e emoções vividas no dia ou em dias anteriores. O ideal é escolher a interpretação do problema que melhor explique e resolva a dificuldade.
Mas há situações em que a lógica precisa ser adotada rapidamente, como me aconteceu certo dia após uma terapia: uma cliente, acompanhada de uma amiga procurou-me no dia seguinte e propôs-me irmos conversar lá fora, num pátio que havia na clínica onde eu tinha meu consultório. Ofereci conversarmos no consultório, onde havia privacidade. Insistiu em ir lá fora. Como o assunto da sessão da véspera havia provocado muita raiva na paciente, concluí que ela queria me bater, tanto que levou a outra para ajudar, sei lá… não fui! Mas isso tudo se passou na minha mente num lapso de segundo e eu tive que tomar a decisão rapidamente, ali, na hora!
Após esse acontecimento, ela não voltou mais para a terapia, nunca vou ter certeza da intenção dela, mas pelo sim, pelo não, não apanhei, e poderia, porque ela demonstrou muito raiva por eu não atender o seu pedido de ir lá para fora. Mas não me neguei a atende-la no meu consultório, até propus que não era preciso que ela pagasse a consulta extra. Enfim, livrei-me dessa.
Outra situação bem triste, por sinal, a irmã de uma ex-paciente telefonou-me dizendo que a mesma estava muito mal. Propôs pagar minha passagem de avião para eu ir vê-la, já que em estado inconsciente, para ver se podia ajuda-la.
O que fazer? Estava eu aqui tratando de um rapaz que queria suicidar-se. Não poderia larga-lo, sem assistência psicológica. O que fazer? Vi-me diante de uma estrada com uma bifurcação. Uma me levaria à morte e outra talvez me levasse à vida, mas também poderia levar à morte.
Escolhi a tênue proposta de vida.
Não viajei! Não ia adiantar, a moça estava inconsciente. Reconheço a aflição da irmã, achando que eu poderia ajuda-las, mas não havia nada a fazer, o câncer não regride quando o doente está na fase terminal. E ela estava.
Preferi continuar assistindo meu paciente. Disse isso à moça que me telefonou, que eu não poderia abandonar meu paciente suicida. Dias depois ela me comunicou a morte da irmã.
Continuei tratando do rapaz. Um dia ele me disse que estava totalmente falido, sem dinheiro para a condução para ir tratar-se.
Foi embora, deixando-me um gosto ruim na boca, gosto de fracasso ao quadrado.
Levei quase um ano para telefonar para saber dele. Imaginava que iam me dizer que ele se suicidara.
Qual não foi a minha surpresa, quando sacudi dos ombros o medo de uma má notícia e telefonei. Afinal, que diabo de psicóloga sou eu? Tinha que telefonar. Telefonei. Ele que atendeu o telefone. E sabem o que ele me disse? Que o ajudei muito. Reerguera-se financeiramente, e que estava muito bem de vida. Qualquer dia viria visitar-me.
Vejam como é difícil ser um profissional de psicologia…