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Mortes que traumatizam

A morte sempre causa um impacto sobre as pessoas que perdem seus entes queridos. A morte inesperada, cujo luto é repentino, causa muito sofrimento ao enlutado. Ele passa a ter choro convulso, é levado a lembranças boas e também às más, às reflexões,  as auto acusações a um sentimento de muita saudade do morto (Lundin, (1984) livro “Luto”, e de Colim Murray Parkes)

Examinando o que acontece quando ocorre a morte súbita de um bebê saudável, (morte no berço) vamos ver o que ela joga os pais diante de uma realidade inadmissível para eles. O desejo que surge é o de saber o que causou (Raphael, 1984).

Peppers e Knapp (1980) estudando o assunto levantaram a hipótese sobre a possibilidade que a” sombra do luto” persiga algumas mães, de tempos em tempos, pelo resto de suas vidas.

A perda de filhos adultos jovens em acidentes leva seus pais a sentirem um luto mais intenso, chegando a apresentar sintomas de problemas de saúde. A depressão pela qual passam é mais intensa do que as sofridas por pais que perderam seus filhos com doenças crônicas graves, como o câncer.

As pessoas que perdem seus familiares por suicídio passam por uma profunda depressão. A tendência que elas têm é a de sentir culpa. Os pais sofrem muito mais do que os cônjuges, se houver.

As perdas múltiplas acontecem quando há revoluções civis ou militares. As perdas são mais traumáticas do que no caso de perdas isoladas (Raphael – 1986). Entram aí as ideologias, os sonhos políticos  desfeitos, as possíveis injustiças , muitas vezes o desaparecimento dos corpos, enfim, a família dos mortos não sabem a quem recorrer e o sentimento de perda torna-se maior ainda.

Há também as perdas que não podem ser apresentadas nem podem ser pranteadas publicamente. São alguns casos de por AIDS (Doka – 1980); os relacionamentos extra conjugais, os relacionamentos homossexuais, os de amantes, e quem sabe outros que deixo de citar. Quando muito, apenas um pequeno grupo de amigos sabe alguma coisa sobre os relacionamentos do morto. Mas tudo é abafado por ser a melhor medida social adotada. As pessoas sofrem com a perda, mas não podem falar sobre o assunto.

As perdas não reconhecidas também causam lutos. São os casos de abortos de mortes perinatais, de devoluções de crianças adotadas (ou não) aos pais biológicos. Neste caso sofrem os pais que criavam a criança, seus familiares, os pais biológicos e principalmente a criança: é ela que sofre a maior perda. Para ela a mãe foi aquela que criou. A mãe biológica não tem nenhuma significação em sua vida. Já tomamos conhecimento através da imprensa de casos de crianças que foram trocadas na maternidade na hora em que foram entregues aos “supostos” pais. Vimos pela televisão o sofrimento das crianças na hora da nova troca. O sofrimento em tais caso é grande para todos, é de luto pela perda sofrida. 

Também são consideradas como perdas, as de animais, as quais levam seus donos a muito sofrimento e até à depressão, por saudades.

É  comum  o sentimento de depressão quando o indivíduo sofre perdas sociais e psicológicas. Mesmo quando não houve uma morte real, como nos casos de Alzheimer, para os familiares é como se a pessoa já tivesse morrido, pois está completamente ausente da vida.

Nos casos de estado de coma permanente também podemos pensar no luto, embora ainda haja uma possibilidade da pessoa se recuperar, ou melhor, ainda resta uma esperança.

Finalmente, vamos abordar o caso dos desaparecidos. A angústia e a depressão tomam conta da família, mas o luto não é sentido em sua totalidade porque a família tem sempre a esperança  do seu retorno a lar. Pensando desta maneira não há como sentir o luto e elaborá-lo.

Não é raro nos depararmos com enlutados que desejam se suicidar para poder “reunir-se” com seu ente querido morto. Este desejo pode ser explicado como uma forma de colocarem um ponto final no sofrimento do presente.

Podemos observar que em qualquer caso de perda, o luto é inevitável, faz parte de um processo que (no caso de luto normal) só o tempo levará a sua elaboração. No entanto se a pessoa não manteve uma relação afetiva com o morto, não se pode falar em perda ou luto, e a ausência da pessoa pode até ser sentida como uma lástima, mas não com luto.